sexta-feira, 2 de abril de 2010

René Capuçon e o Guarnieri del Gesù de Isaac Stern

O violinista francês René Capuçon interpreta melodia de Gluck (em arranjo de F. Kreisler)no violino Guarnieri del Gesù que pertenceu a Isaac Stern. A sonoridade desse instrumento é excepcional, sonho de consumo de qualquer instrumentista.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Glass harmonica

    Já tinha ouvido, sabia da existência de obras escritas, mas nunca tinha visto! Agora  achei um video no youtube de uma Harmônica de vidro  executando o Adagio für Glasharmonika KV 617a  de W. A. Mozart.
   Além de Mozart, Beethoven, C.P.E. Bach, Rossini, Richard Strauss, Saint-Saëns e outros escreveram obras para esse isntrumento que não sobreviveu muito além do séc XVIII.Rumores afirmavam que o uso do instrumento causava mal tanto aos músicos como aos ouvintes.
   Um exemplo do medo de tocar glass harmonica foi registrado pelo musicólogo alemão Friedrich Rochlitz no Allgemeine Musikalische Zeitung: " A armonica estimula excessivamente os nervos, leva o músico à depressão e daí em diante a um temperamento sombrio e melancólico (...). Se você sofre de algum distúrbio nervoso,  você não deve tocar; se ainda não está doente  não deve tocar; se sente melancolia não deve tocar." *
   A Glass harmonica desapareceu das apresentações públicas por volta de 1820  provavelmente por conta da mudança do gosto musical. A música saíra das pequenas salas aristocráticas, na época de Mozart, para as grandes salas de concerto de Beethoven e seus sucessores onde o delicado e cristalino som da armonica simplesmente não podia ser ouvido.



Benjaminn Franklin e sua armonica










* http://en.wikipedia.org/wiki/Glass_harmonica
 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

W. A. Mozart, Sonata para piano e violino em Mi menor K300c


Quando adolescente toquei esta sonata mas não fazia idéia das circunstâncias em que fora escrita.Certo dia, durante o ensaio, a pianista fez o seguinte comentário: " O que deve ter acontecido com Mozart quando escrevia esta sonata? Ele deveria estar muito triste!" . Tempos depois, já formado e com mais vivência musical, voltei a tocá-la. Na ocasião lembrei-me do comentário de minha amiga e resolvi pesquisar sobre os acontecimentos na vida do compositor durante o periodo da composição da sonata. Qual foi minha surpresa ao saber que ele escreveu esta peça logo após a morte de sua mãe. Ana Maria Pertl Mozart faleceu em Paris no dia 3 de julho de 1778 às 22:21 depois de 14 dias de agonia. Logo após , Mozart escreve uma carta ao abade Bullinger notificando o falecimento da mãe e pedindo-lhe  que prepare seu pai, Leopold, para a triste notícia:

*Paris, 3 de julho de 1778

Ao melhor dos meus amigos!
A somente vós

 Chorai comigo meu amigo! Este dia foi o mais triste da minha vida. Escrevo esta carta às duas horas da noite (sic). É necessário que eu vos diga: minha mãe, minha querida mãe não existe mais! Deus a chamou para si. Ele a queria,  vi claramente. Assim rendi-me a sua vontade. Ele ma deu, ele também pode  tomá-la de mim. Imaginai somente todas as inquietações, as angústias e os cuidados que foram minha parte durantes esses 14 dias. Ela morreu sem se deixar notar como uma luz que se apaga. Ela se confessou três dias antes, comungou e recebeu a extrema unção. Mas durante esses três últimos dias  delirou incessantemente, e hoje às 5 horas e 21 minutos, começou a agonizar e logo perdeu a consciência. Segurei suas mãos, falei-lhe, mas ela não me via, não me compreendia, não sentia nada. Permaneceu assim até seu último suspiro, ou seja, cinco horas depois, à noite às 10 horas e 21 minutos. Havia somente eu, um querido amigo nosso, que meu pai conhece, M. Haina, e a enfermeira. Hoje  me é impossível  descrever-vos toda sua doença. Penso que ela deveria morrer; Deus assim o quis. Eu vos peço, como um favor de amigo, que prepare delicadamente meu pobre pai para esta triste notícia. Enviei-lhe uma carta pelo mesmo correio, mas  somente disse que ela estava gravemente doente e espero uma resposta para então decidir minha conduta. Deus lhe conceda força e coragem! Meu Amigo! Não é de hoje que estou consolado, mas já há muito tempo! Por uma graça particular de Deus  tudo suportei com firmeza e resignação. Quando o estado de minha mãe agravou-se,  pedi a Deus somente duas coisas, para minha mãe últimos momentos honrosos e para mim força e coragem. O bom Deus  me compreendeu e me concedeu essas duas graças no mais alto grau.
Eu vos imploro, meu querido amigo, sustentai meu pai, inspirai-lhe coragem a fim de que o choque não seja tão penoso e que ele não reaja com violência, quando se conscientizar do pior. Eu também vos recomendo minha irmã  de todo meu coração. Ide vê-los o quanto antes, eu vos peço. Não lhes digais ainda que  ela é morta, mas preparai-os para a notícia. Fazei como quiserdes; fazei somente com que eu possa ficar tranquilo e que  não receba qualquer outra infelicidade.Amparai meu querido pai e minha querida irmã. Dai-me o quanto antes uma resposta, eu vos peço. Adeus, sou vosso
 mui respeitoso e  mui obediente servo,
Wolfgang Amadeus Mozart

Em meio a essa situação, Mozart escreve uma das mais emocionantes sonatas para piano e violino. Essa obra nos revela o estado de espírito de um jovem de 22 anos no momento em que, longe da família, perde quem tanto amava. Realmente uma pessoa completamente diferente do Mozart  que imaginamos: alegre, quase louco - mas nem por isso menos genial.












A família Mozart (pintura a oléo 1780/81)

*Traduzido da edição francesa do livro MOZART de Wolfgang Hildersheimer, Ed. Jean-Claude Lattès, 1979.


Francesco Antonio Bonporti

Invenzione 4 per violino e Basso continuo, 1o. movimento - Adagio.
Obras com baixo continuo realizadas com órgão ao invés de cravo, adquirem maior proporção e conseqüentemente maior volume sonoro. Esta gravação(sem grandes pretensões) foi feita durante o ensaio na 1a. IPI de São Paulo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O começo

Já que este  é o primeiro post, nada mais justo do que começar do início. Desde criança sou muito curioso e na escola ficava fazendo  aquelas  perguntas que os professores não sabiam responder. Uma vez  perguntei para o professor de história por que  a Grécia se chamava Grecia, obvio que ele enrolou  e nao  me respondeu.
Outra duvida pertinente era sobre a origem do violino: quem inventou, quando, onde...;  achei as respostas em um livro italiano chamado il Violino escrito por Alberto Conforti Ed Idealibri 1987. A seguir apresento a traduçãode trechos da versão francesa de 1989 da Ed Flammarion.

Cinco séculos de história

Quando e por quem o violino- instrumento conhecido e amado por todos, ao qual os maiores mestres dedicaram obras imortais, foi inventado? É quase impossível de responder. Por muito tempo atribuiu-se a criação a somente um homem: os musicólogos do séc. XIX consideraram fosse o  luthier Gasparo de Salò de Brescia.Mas esta hipótese não resistiu a um exame rigoroso dos fatos: os violinos de Andrea Amati, nascido em Cremona em 1505, são datados de 1550, ao passo que Gasparo de Salò nasceu em 1540, dez anos antes.Todavia, a existência quase certa de um instrumento chamado "violino" no inicio do séc. XVI não nos autoriza a afirmar que o luthier cremonense fosse o inventor.
Conscientes da impossibilidade de associar à descoberta do violino uma data e um nome preciso, especialistas procuraram determinar em qual zona geográfica e em que meio surgiu pouco a pouco a forma moderna do instrumento.
O violino nasceu na Itália, no interior de uma região compreendida entre Cremona, Milão, Brescia e Veneza;  lá ocorreu a ultima etapa de uma lenta evolução que, dos instrumentos de arcos da Idade Média e da Renascença, concluiu no surgimento da familia do violino no início do séc. XVI.




















violino de Andrea Amati de 1558 ( modernizado e restaurado) 

Todos os primeiros violinos foram perdidos mas  sabemos, graças a vários documentos escritos e iconográficos, que apareceram antes de 1550.O instrumento é mencionado pela primeira vez em um registro da Tesouraria geral de Savóia onde figura, em data de 17 de dezembro de 1523, a escritura de um pagamento pelos serviços de trompettes et vyollons de Verceil (Vercelli) (a cidade piemontesa se encontrava sob o domínio da casa de Savóia e os documentos oficiais foram escritos em francês). Em contrapartida, o primeiro documento iconográfico remonta a 1529: trata-se de um retábulo do pintor Gaudenzio Ferrari: La Madonna degli aranci conservado na igreja de Santo Cristoforo de Vercelli. Vê-se um anjo segurando um violino  de formato muito próximo ao dos instrumentos da segunda metade do século.


Em 1535 o mesmo Gaudenzio Ferrari pintou sobre a cúpula da catedral de Saronno um gigantesco "concerto" de anjos no qual figuram todos os instrumentos da familia do violino, correspondendo aos violinos, violas e violoncelos  modernos.


Três anos mais tarde, em 1538, um documento concernente ao pagamento dedicado a violinos milaneses vem estabelecer o uso do termo italiano "violino".
Quaisquer que sejam suas origens, o violino se impôs por volta de 1550, numa forma que variaria muito pouco no decorrer dos séculos seguintes: uma caixa de ressonância composta de dois tampos paralelos ligeiramente incurvados, chanfruras laterais profundas que se terminam em ângulos agudos, quatro cordas afinadas em quintas e um espelho liso sem trastes. O som é produzido pela fricção de um arco acionado pela mão direita, sobre as cordas, enquanto a mão esquerda determina a altura dos sons modificando o comprimento da vibração das cordas.
Séculos depois tentativas de "evolução" foram feitas, mas algumas delas resultaram em verdadeiras aberrações. Mas isto é assunto para outro dia... 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Saudações

Faz tempo que venho pensando em criar um blog para compartilhar minhas paixões: violino e música. Meu objetivo é  falar sobre obras, compositores, gravações, noticias,textos, história da música (e do violino é claro!!), técnica, pedagogia... enfim tudo que gira em torno desse intrumento diabólico ( ou divino talvez).
Sejam todos bem vindos!!!!